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O Mago Eterno

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Mensagem por Rafa22 Qui Jul 16, 2009 5:12 pm

A certa altura achei que devia escrever. Talvez tenha alguns erros e não seja totalmente bem, mas fiz o melhor que pude utilizando a minha imaginação. Espero que gostem e se o lerem comentem. Sejam francos no que disserem. O prólogo é ainda grande, mas não se preocupem se gostarem realmente dele ao inicio hão de lê-lo até ao fim.

Prólogo: Para as Montanhas

– Temos de sair daqui. – disse o homem a tremer no meio do campo de batalha. Assim o fez, apressadamente, começou a correr agarrando a mão de uma mulher de dezasseis anos de idade. Matou alguns nindels pelo caminho, antes de chegar ao portão que dava acesso à rua. A guerra destruíra os seus lares. Era quase noite. Conseguiram sair da aldeia, tomando rumo para sul. Correram pelos campos sem se falarem durante trinta minutos, como que a fugir de uma perseguição. Chegaram ao fim dos campos onde apenas existia bosque e vegetação. Ficaram apreensivos a olhar o bosque.
– Para onde fazes tenção de me levar Verkan? – perguntou a mulher assustada. O homem olhou friamente, ela assustou-se com o seu olhar.
– Não te podia deixar no meio da batalha, temos de fugir. Deixar tudo, os nossos lares, a nossa terra, tudo. Vamos para o portal. – respondeu com os olhos bastante abertos e o rosto sujo de sangue inimigo. – Não te vou deixar morrer. Ninguém se vai salvar daquele inferno.
– Então e o que vai ser a nossa vida? – A mulher chorava. As lágrimas limpavam a sujidade do rosto com uma pureza inquestionável. A sua pele era macia e clara. Uma mulher tão bela era difícil de existir. O homem olhou-a nos olhos com tanto medo como ela e limpou-lhe as lágrimas com os polegares.
– Confia em mim, vamos sair disto vivos. Eu salvo-te. Não chores por favor.
– Eu confio. – disse por entre soluços de tristeza. As lágrimas escorriam quais gotas preciosas ao crepúsculo.
Correram a chorar, pelo bosque dentro. O homem desembainhou a espada e levou-a na mão, o seu gume estava coberto de sangue ainda quente. Continuaram a caminhada por três quartos de hora. Pararam no bosque e olharam para trás como que a despedirem-se do seu velho lar, abraçados. O seu espanto ao voltarem a correr foi tal que sentiram ambos um arrepio no seu corpo. Um homem, com um grupo de pessoas, gritava:
– Esperem, por favor. Vamos convosco.
Os dois pararam sem saber o que fazer. Olharam para trás petrificados, num movimento quase parado. O homem e o grupo de vinte e duas pessoas, corria sem parar. O homem gritava no sofrimento. Continuaram parados à sua espera.
Contudo o espanto fê-lo vacilar e tremer, pensando em várias opções. Atrás do grupo de pessoas, meia centena de nindels, corriam atrás deles, com espadas sinistras e tochas nas mãos. Estavam já muito próximos do grupo.
– Não! Fishyr, vamos. Temos de continuar. – disse Verkan virando-se para o a orla do bosque de novo, vendo que Fishyr caminhava na direcção do grupo em seu socorro.
– Não, não os podemos deixar Verkan. Morrerão se o fizéramos. Temos de os salvar.
– São muitos nindels, não os conseguimos aguentar a todos. Morreremos com eles.
– Verkan, são o teu povo, tens de fazer qualquer coisa por eles.
– Já não são o meu povo, agora são o povo do Mózilus. Eu não pertenço mais ao seu povo, sou um fracasso. – disse olhando para o chão com temor nas suas palavras, com vergonha de si mesmo.
– Por favor Verkan, és o único que pode fazer alguma coisa por eles. És um óptimo espadachim. Para além disso, precisamos deles para fugirmos, só com a sua magia conseguimos escapar. Não te esqueças de que já não temos poderes.
Verkan encarou a realidade e olhou para a multidão de nindels estudando a melhor forma de ataque, com o punho cerrado exercendo ali toda a sua força de pensamento.
– Tens razão. Eles são a nossa única hipótese de escapatória.
Olhou para eles e ouviu gritos de entre a batalha. Mulheres que acabavam de perder os seus filhos e maridos.
Já tinham morrido três pessoas.
– Fishyr, fica aqui e mata-os com a tua habilidade do arco e flecha.
– Sim meu rei! Agora vai! – gritou.
Verkan estava a vinte e oito metros do confronto. Correu para o confronto, com a sua espada comprida em punho. Saltou para cima do primeiro nindel que viu à sua frente, enterrando-lhe a espada na parte lateral do pescoço. Verkan era um óptimo espadachim, não só manejava bem a sua arma como tinha óptimos movimentos corporais.
Dois nindels correram na sua direcção, um mantinha firme na sua mão, uma machada pequena e o outro trazia uma espada com o gume ensanguentado. Verkan teve tempo de parar dois golpes diferidos pelo nindel que usava a machada. E depois agarrou-lhe o braço e torceu-o à volta da fina camada de pele do pescoço do nindel, tentando estrangular o nindel com o seu próprio braço. Ergueu a sua espada e cortou-lhe a traqueia.
Com reflexos rápidos, tirou da sua bainha, que tinha nas costas, outra espada igual, fina, comprida e muito afiada e travou o ataque do segundo nindel com ambas. O nindel rosnou e depois voltou a atacar. Verkan baixou a cabeça e rapidamente, com as suas espadas, trespassou o estômago da criatura que se encolheu de agonia, e com toda a sua força cortou o tronco da criatura separando-o das pernas musculosas.
Olhou para a batalha, que não estava bonita e, gritou, usando as mãos como megafone, para que se fizesse ouvir:
– Recuem, fujam para a orla do bosque. Fujam. – As pessoas começaram a correr por entre gritos, já só restavam quinze pessoas. Apenas duas crianças tinham sobrevivido até ali.
Verkan olhou à sua volta, havia um grupo de pessoas que não se conseguia escapar da emboscada dos nindels. Eram dois homens e dois jovens com a idade de Verkan. Correu para os ajudar, estavam rodeados por dez nindels. Matou dois ao chegar, cortou a coluna do que estava à sua frente e quando o outro se virou protegeu-se e decapitou-o. Os homens começaram a lutar com a ajuda de Verkan. Os jovens estavam amedrontados e a tremer, mas também lutaram ignorando o medo.
Verkan tinha quatro nindels diante de si. Embainhou as suas espadas e agarrou-se ao braço de um, saltou para trás dele, tirou um punhal de uma bainha pequena que tinha à cintura e enterrou-a na nuca da criatura, deixando o punhal escorregar lentamente, até lhe fazer um corte até meio da coluna. Os outros três tentaram agarrá-lo e esfaqueá-lo na barriga, mas Verkan saltou para as costas do que estava mais próximo e espetou-lhe o punhal no escaleno. Este guinchou. De seguida, Verkan saltou para a sua frente, a criatura tentou agarrá-lo e este segurou o seu punho e cortou-lhe o antebraço com uma das espadas que voltou a retirar da bainha. A criatura desequilibrou-se e Verkan voltou-lhe costas, com um gesto indiferente, mostrando facilidade, ferrou-lhe dolorosamente a espada no peito.
Os outros dois correram para si sedentos de sangue. Verkan correu um pouco mas as criaturas eram rápidas e chegaram perto dele, este virou-se e travou o golpe mais forte que sofrera alguma vez de um nindel. A sua espada escapou-lhe da mão com a força do embate e foi parar aos pés de um dos nindels que a chutou para longe.
Verkan foi agarrado por outro nindel por trás que não o deixou fugir. A mão de Verkan estava dorida da força do golpe, mesmo assim não vacilou. Lutou com todas as forças que tinha para se libertar, mas nada, a força do nindel que o segurava era enorme.
Tudo parecia acabado, um dos dois nindels que o perseguiam, tirou das costas uma lança e o outro observou com um sorriso maléfico no rosto, fazendo um ruído estranho e ruim. Ergueu a lança bem alta e apontou-a ao peito de Verkan. Mesmo assim Verkan encarou a morte, não fechou os olhos e continuou a lutar para se soltar. Soltou um grito de fúria, estava desencorajado. O nindel desceu a lança ao sabor do vento com uma velocidade impressionante.
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Mensagem por Pereira Qui Jul 16, 2009 6:41 pm

não está nada mal. Muito sangue Smile . . mas aconselhote a leres para ti para reparares melhor nos erros.
e uma coisinha que pelo menos eu não gostei foi das distâncias. No meio de uma batalha é dificil saber se estás a 28 ou 30 metros portanto tanta precisão ai é desnecessária.
espero que nao leves a mal a critica mas não é dita com má intenção Smile . .Continua a escrever e postar Smile

e já agora passa no meu tópico "Cronicas de Antherion" e critica Smile
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Mensagem por Rafa22 Qui Jul 16, 2009 7:18 pm

Obrigado pela critica. Tens razão, também pensei muito antes de por assim, mas visto dessa maneira acho que vou imendar as distancias. Aindas não acabei o prólogo, vou ter de o dividir em tres partes e depois acabo de o postar. É ainda grande.
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Mensagem por Pereira Qui Jul 16, 2009 7:19 pm

vai escrevendo sem stress nenhum Smile
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Mensagem por Rafa22 Sex Jul 17, 2009 9:59 pm

Ao estar prestes a matá-lo, foi surpreendido por duas setas que se ferraram no seu peito. Caiu sem gemer. O nindel ainda não o largara, continuava a segurá-lo, os braços de Verkan estavam a ficar negros da força exercida pelo nindel que o segurava.
O outro pegou na sua espada e ergueu-a na tentativa de o matar, mas também foi surpreendido por duas setas que se cravaram no seu estômago. Nem isso travou o nindel, ergueu de novo a espada e correu na sua direcção. Verkan viu-o a correr brandindo gritos de guerra. De um momento para o outro a criatura foi atingida com uma velocidade sobrenatural, por uma seta na têmpora. Caiu com um estrondo. Verkan olhou para ver de onde vinha a seta e sorriu ao ver que tinha sido salvo por Fishyr, a mulher que fugia com ele.
Ainda estava preso e já sem forças. O nindel que o prendia começou a estrangulá-lo com os braços. O rosto de Verkan estava roxo e a sua respiração estava mais acelerada. O seu coração batia cada vez mais rápido. Verkan estava assustado, Fishyr começou a gritar e a chorar, mas não podia fazer nada ou corria o risco de acertar em Verkan. Os quatro homens e rapazes, que tinham sido ajudados por Verkan e que estavam ainda rodeados por três nindels, acorreram ao seu salvador para lhe retribuir o favor.
– Salvem-se, fujam, corram pelas vossas vidas. – gritou Verkan em desespero. Os homens não pararam, continuaram a correr. Ao chegarem perto dele, um dos homens decapitou o nindel que o estrangulava com uma velocidade tremenda. Verkan caiu ao chão e deixou-se levar, desmaiara. As últimas coisas que ouviu foram:
– Recuar! Corram! Eu levo-o.
Verkan estava sem sentidos. O homem pegou-lhe pelos braços e levantou-o, carregou-o aos seus ombros numa corrida lenta. Ainda haviam cerca de trinta nindels a perseguirem-nos. O homem e os dois jovens continuaram a lutar, mataram mais cinco nindels e depois correram para trás. Viam cada vez mais nindels. Fishyr esperou todos os outros, sempre com nindels em mira. Ao chegarem perto dela, os cinco – os dois homens, os dois jovens e Verkan inconsciente – pararam para descansar.
– Não os conseguimos aguentar, o que devemos fazer? – disse o que transportava Verkan sem fôlego. – Não é fácil correr com ele às costas, terão de me cobrir a retaguarda.
– Vai e leva-os a todos. Eu dou-vos um avanço e distraiu-os enquanto vocês vão. – ordenou Fishyr depois de pensar durante um pouco.
– Não, não iremos sem ti.
– Estou a mandar-vos que vão, eu fico bem.
– Boa sorte… Vamos. Corram para o bosque.
Todos correram com as espadas em punho, alguns ficavam um pouco para trás devido aos ferimentos. Apenas duas crianças iam no grupo, uma delas encontrava-se ferida, tinha apenas seis anos, a outra tinha um. Os dois jovens que tinham permanecido na batalha, olharam para trás antes de partirem e viram Fishyr, a disparar duas setas muito precisas, que abateram dois nindels. Continuaram o caminho sem parar. Ouviam-se lamentos e choros de mulheres e jovens. Os mais velhos do grupo tentavam acalmar as mulheres e os mais novos.
Por fim, após uns minutos de caminho chegaram ao portal. O portal era um velho baloiço enferrujado. Muitos tinham tido a mesma ideia, irem até ao portal e lá desaparecerem.
– Temos algum mago connosco? – perguntou um dos homens mais velhos com cerca de trinta anos – era o homem que transportara Verkan até ali.
Um homem de barba completamente branca espreitou diante dos presentes. Tinha o rosto mais envelhecido que já se vira. A sua pele estava velha com marcas e sinais por todo o lado. Tinha uma capa castanha e um bordão na sua mão. Olhou o homem de lado.
– Eu sou um mago, porque queres saber?
– Desculpe, este homem está desmaiado mal e eu queria pedir que nos ajudasse a salvá-lo. Acha que consegue com a sua magia? Ele quase morreu estrangulado. – o mago olhou Verkan e depois olhou para o rosto do homem.
– Desculpe, mas nada posso fazer.
– Por favor tente, este homem salvou-nos. Os magos e os elfos são os únicos que conseguem curar pessoas.
– Já vi muito na minha longa vida que não gostei de ter visto. Não dão aos magos assim tanto valor como dizes. Não estou disposto a ceder. – o velho recuou e sentou-se num rochedo áspero e cheio de musgo.
O homem virou-se para Verkan e refilou.
Todos esperavam Fishyr há vinte minutos. Já tinha anoitecido.
– Não esperemos mais se queremos salvar a nossa pele. – disse um jovem sábio revelando-se no silêncio.
– Temos de esperá-la, não a iremos abandonar. Ela também nos salvou.
O jovem voltou a sentar-se numa rocha maior do que a do velho, onde estava outrora amolando a lâmina da sua espada, contrariado, dizendo impropérios.
Esperaram por mais quinze minutos. Por fim apareceu diante das árvores um vulto feminino. Fishyr revelou-se com o arco em punho.
– Pensei que tivessem partido. Seria muito mau para mim se o tivessem feito. Agradeço-vos por terem esperado. Como está o Verkan? – perguntou dirigindo-se ao homem que o tinha transportado até ali.
– Ah, então chama-se Verkan. Ele está na mesma, não acordou desde que aqui estamos. Ah, e nós é que vos estamos agradecidos por nos ajudarem. Mas, porque demorou tanto?
– Tive de os despistar. Matei cinco deles até chegarem a mim, depois apercebi-me do erro que tinha cometido, mas era tarde, já estavam em cima de mim. Corri por uns minutos e depois encontrei à minha frente um cavalo selvagem. Consegui entrar-lhe na mente e ele deixou-me montá-lo, foi difícil sem sela, e sem rédeas. Galopei contornando a zona de Orzegoth durante dez minutos, mas eles não se cansaram. Ganhei um grande avanço e soltei o cavalo, achei que era altura de entrar na floresta e foi o que fiz. Embosquei-os por trás. Encontrei sapos venenosos num pântano e matei-os para lhes extrair o veneno que coloquei nas minhas setas. Matei mais seis nindels com elas. Eles não me viram, escondi-me na copa de uma árvore. Voltaram para trás, para uma zona de pradaria e eu saí e corri para aqui. Quando olhei para trás, reparei que eles me olhavam e me estudavam, mas desistiram penso eu. De qualquer forma é melhor apresarmo-nos, não vão eles aparecer.
Pegaram todos nas espadas, machados, escudos e os alforges que tinham puseram-se de pé. A relva por baixo dos seus pés era verde e fresca. A lua iluminava os seus rostos. As duas primeiras pessoas chegaram-se à frente e sentaram-se no baloiço ferrugento. Todos se afastaram a ver o espectáculo.
– Temos de ir com um de vocês, roubaram-nos os poderes. – disse Fishyr um pouco apressada. O homem estava sentado com Verkan aos pés. Levantou o queixo para ela e disse num tom respeitoso:
– Muito bem.
À medida que as pessoas avançavam para o baloiço e dele desapareciam a noite passava. Tinham sobrevivido quinze pessoas ao ataque, apenas os mais destros e destemidos, ou os mais covardes sobreviveram. Estavam apenas mais sete pessoas prestes a partir. Fishyr olhou para Verkan a abaixou-se a ele. Deu-lhe uma festa na cara. A sua mão estava gelada como a noite mas foi uma carícia suave. O homem olhou para ela e disse em tom compreensivo:
– Não temas, ele ficará bem. Conhecia-lo?
– Sim, estávamos noivos.
O homem olhou-a assustado por uns segundos e depois virou-lhe as costas e dirigiu-se ao baloiço. Faltavam apenas cinco pessoas.
– Esperem! – gritou. Todos pararam a olhar para ele. Fishyr desviou o seu olhar na sua direcção. – Precisamos de duas pessoas que acompanhem cada um dos presentes.
– Eu posso fazê-lo. – disse um dos homens que lá estava. O velho mago era o outro que lá estava. Olhou-os de esguelha e nada disse.
– Óptimo. Então parte com a Fishyr e eu vou já com o…
– Verkan. – respondeu Fishyr.
– Sim, com o Verkan. Obrigado.
Fishyr olhou de novo para Verkan, como se estivesse a despedir-se. Verkan mexeu-se no chão. Contorceu o pescoço a gemer de dores.
– Verkan! Ele está a acordar. – avisou Fishyr eufórica. Correu para junto dele de novo e ajoelhou-se.
– O que foi que aconteceu? – perguntou a tossir. Os seus braços tinham um enorme hematoma. Estava com dificuldade em abrir os olhos. – Tenho a garganta tão seca. – queixou-se.
– Toma. – disse o homem tirando o seu odre da cintura e entregando-lho. Verkan levou-o à boca e bebeu até deixar o odre vazio.
– Tu desmaias-te enquanto lutavas, foste preso pelas costas e tentaram estrangular-te. Este senhor salvou-te. – explicou Fishyr com o coração nas mãos.
– Sim, eu lembro-me. Agradeço-lhe imenso. Como se chama?
– Ipad, filho de Doriön.
– O que fizeste foi muito nobre Ipad, filho de Doriön. Estou-te muito grato.
– Nós, é que te estamos gratos. Tu é que nos salvaste e encorajaste.
– Não vos podia deixar ali assim. Mas depois deixei-me ser apanhado e em vez de ajudar, atrapalhei.
– Não atrapalhaste nada, demos-lhes uma bela lição, ainda matámos uns quantos. Infelizmente morreram sete dos nossos e temos três feridos. Agora vamos senão eles poderão voltar.
Verkan levantou-se com a ajuda de Fishyr e de Ipad. Caminharam para o baloiço. Verkan não sentia força nenhuma dentro de si. Os seus braços tremiam com a dor e cada passada que dava, era um tormento para as suas pernas que se queixavam. Ajudaram-no a sentar-se no baloiço e depois Ipad disse limpando o suor da testa com as costas da mão:
– Leva-o tu rapaz. – disse ao jovem que se tinha oferecido para levar Fishyr. O jovem assim o fez, sentou-se no banco do baloiço, ao lado de Verkan e com uma explosão os bancos do baloiço giraram e depois pararam já sem ninguém lá sentado.
– Senhor, quer ir primeiro? – Perguntou Ipad com respeito, ao mago mais velho que ali estava. O homem olhou desconfiado e resmungou silenciosamente e depois encarou-o com uns olhos enormes, bem abertos e vermelhos e respondeu com o Bordão a tremer nas suas mãos:
– Não te preocupes comigo. Eu já tenho mais experiencia de vida do que tu imaginas. Vai e não me esperes.
– Eu… – Ipad ia começar uma discussão, mas um som de guincho fê-los a todos olharem para trás. Diante de si tinham um exército de trinta nindels e consigo tinham quatro estéropes.
– Oh não! Foram chamar os estéropes que estavam na aldeia a combater. – sussurrou olhando para eles. Estavam cercados. Os nindels gritavam gritos de guerra e pulavam com tochas nas mãos. As caras ensanguentadas dos nindels enjoavam qualquer pessoa que as olhasse, os seus olhos eram vermelhos e no rosto poisavam várias borbulhas e cicatrizes vermelhas e negras. Os seus dentes eram poucos e afiados ou partidos. Usavam elmos desajeitados e descaídos nas suas cabeças, bem como escudos redondos e frágeis de um metal muito fino. As armaduras estavam gastas e todas elas arranhadas. Os soldados usavam cimitarras, espadas, machadas, e viam-se alguns com arco, com alabardas e com piques.
Os estéropes avançaram descoordenados, apunhalando mocas. Baba escorria dos seus queixos e quando rugiam, um cheiro a putrefacção invadia o ambiente. As suas cabeças ficavam acima da altura das árvores. Tinham uma pele cinzenta corroída e marcada. As suas barrigas eram inchadas, os braços peludos e as cabeças carecas. Eram criaturas muito semelhantes a trolls. A única protecção que tinham, era uma armadura em forma de colete de metal espinhoso, a proteger as costas e o peito. Tinham duas sombras no lugar dos olhos e um pequeno olho bastante sobressaído na testa.
– Vamos! Rápido senhor! – gritou Ipad ao velho mago. – Vá e leve consigo a Fishyr!
O velho não reagiu, em vez disso mostrou-se sem medo e gritou sentindo-se rebaixado:
– Por quem me tomas? Por um covarde, quem fogem são os covardes.
– Não adianta de nada, você já fugiu da guerra. Aí foi um covarde?
O velho olhou de lado e manteve-se quieto a ver as criaturas a aproximarem-se. Resmungou e depois enrugou os olhos mostrando a sua insatisfação.
– Venha depressa. – O velho não se mexeu. Segundos depois, com uma velocidade estonteante, o velho mago foi projectado quando levou com uma moca espinhosa, quase do tamanho de uma árvore, na parte lateral da sua cabeça. O homem caiu a uns metros de distância com a cabeça espicaçada e o sangue quente a correr. Fishyr soltou um grito ensurdecedor e chorou lágrimas de medo.
– Não! – gritou Ipad, com o seu estômago a andar às voltas. Cerrou o punho – Vamos! Temos de fugir daqui. – gritou novamente e puxou o braço de Fishyr até a sentar no baloiço a seu lado. O estérope estava relativamente perto, mas nada fez e continuou a correr nas suas direcções. O vento bateu na cara do monstro quando os dois desapareceram numa velocidade assustadora com os bancos do baloiço a rodarem.
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Mensagem por Rafa22 Sex Jul 17, 2009 9:59 pm

Fishyr caiu ao chão com o impulso, não se manteve de pé. Caiu em cima da erva molhada pelo orvalho nocturno. Já não estavam ao pé do estéropes. Ali não haviam árvores, apenas uma casa de campo mesmo à sua frente. O fumo saia pelo fumeiro da casa.
Estavam noutro mundo, o Nosso Mundo, onde não existia magia. Diante de si estavam os outros catorze do grupo, devido à morte do membro mais velho, e mais Verkan. Fishyr levantou-se de um pulo, para que ninguém se apercebesse, de que tinha caído. Limpou as mãos às calças de seda.
Verkan sorria apoiado por dois jovens e com uma perna no ar. Fishyr sorriu também ao olharem-se.
– Conseguimos. – disse ela grata com o acontecimento.
– Eu disse que te ia salvar, afinal tu, é que me salvaste. – disse Verkan com dificuldade no respirar.
– Salvámo-nos um ao outro.
Verkan gemeu de dor ao respirar novamente.
– Talvez lhe tenham partido uma costela ou duas. – sugeriu Ipad.
– Não podemos ficar aqui. Vejam só, neste mundo somos verdes. – refilou um senhor baixo que se mantinha escondido atrás do grupo. – Nem todos, mas os magos que ainda têm poder estão todos verdes.
Fishyr olhou o homem e sentiu-se triste por dentro. Alguns homens e mulheres estavam verdes, a maioria. Ela, Verkan, Ipad e mais duas mulheres não estavam. Mantinham o seu verdadeiro tom de pele.
– Vamos. Temos de arranjar um refúgio.
– Então e o mago que estava connosco, não o esperamos? – perguntou um outro homem que se chegou à frente. Ipad fez uma pausa e depois respondeu:
– Não. Infelizmente ele deixou-nos… – disse friamente. – Ele foi morto por um estérope. Fomos emboscados por trinta nindels e quatro estéropes quando vínhamos.
Ouviram-se muitos comentários das pessoas, muitas tristes, outras incertas, outras intrigadas.
– Oiçam! – gritou Ipad. – Não podemos ficar aqui, temos de arranjar um sitio onde ficar. – Olhou à sua volta em busca de um lugar para partirem. Finalmente parou a olhar fixamente e anunciou: – Para as montanhas! Venham!
Seguiram-no devagar, devido ao peso da carga e aos ferimentos. As montanhas não eram muito longe, as casas ficavam mesmo no sopé das montanhas. Passaram por muitos metros de vegetação e de áreas desertas. Andaram pela noite dentro durante meia hora e pararam quando chegaram a um riacho que descia a montanha. Alguns saciaram a sede. Do outro lado, umas lindas cataratas, emergiam de uma nascente, lá no alto de uma gruta. Subiram até terem alcançado uma altura razoável e encontrarem uma gruta espaçosa onde todos cabiam maravilhosamente bem.
Instalaram-se na gruta. Era gelada, depressa Ipad e mais dois homens fortes, saíram para apanhar lenha, apesar de já ter anoitecido. As pessoas comeram uma porção dos mantimentos que tinham trazido. Outras pessoas tratavam dos feridos e outros preparavam camas improvisadas. A gruta tinha algumas estalactites e estalagmites, mas muito poucas. Dos picos das estalactites, pingavam gotas de água reluzentes, que ecoavam no fundo da gruta, ao cair. Um som vinha do fundo escuro da gruta, como o respirar de um dragão. Era o som do vento a passar pelas brechas das rochas.
Dois morcegos perseguiam insectos no exterior da gruta. As pessoas conversavam assustadas. Perguntavam o que iria agora acontecer; como sobreviveriam?

Passados quarenta minutos, Ipad voltara com os seus homens carregados com toda a lenha que conseguiram e com suas machadas. Um dos homens trazia apenas galhos secos para acender a fogueira. Os outros traziam os maiores troços, que conseguiram arranjar. Instalaram-se e atearam uma tímida fogueira. O ar quente que ela transmitia, atraía as pessoas que depressa se foram juntando à sua volta.
As mulheres arranjaram os cobertores mais velhos que tinham e, deitaram-se a dormir. Os homens estavam inquietos; alguns não conseguiam abrir a boca. Uma senhora de longa idade tratava de uma das duas crianças que estava a chorar desde que começara a batalha. A perna do pequeno rapaz estava ligada com trapos velhos de seda. Os trapos estavam ensopados em sangue e um enorme arranhão na sua bochecha não parava de deitar sangue. O rapaz tinha seis anos apenas, mas estava a aguentar-se do sofrimento. A sua pele estava branca e os seus olhos esbugalhados estavam cansados do choro. O rapaz fechou-os com um grito e adormeceu para sempre.
– Lamento nada ter conseguido fazer nada. – disse a velha senhora curandeira com os seus dedos esqueléticos no rosto.
A mãe da criança chorava num sofrimento brutal, bem como outras mulheres viúvas e que também tinham perdido seus filhos. Agora eram apenas catorze ao todo, contando com Fishyr, Verkan, Ipad e os outros. A única esperança de fazer um futuro, eram as crianças e neste momento, apenas uma criança, com um ano se mantinha viva, a outra morrera.
O grupo vivera ali por vários anos, alimentando-se daquilo que a natureza lhes dava. Caçaram e colheram frutas durante uns longos anos.
Ao terceiro ano, uma família, aquela cujo seu filho sobrevivera e tinha agora quatro anos, saiu das montanhas e arranjaram uma casa no campo e um emprego, adaptaram-se a uma nova vida.
Um ano depois Fishyr ficou grávida de Verkan. O seu filho nasceu na gruta, com a ajuda de uma curandeira. Tudo correu bem.
Dois anos depois, também conseguiram arranjar uma casa no campo, para os três. Mais tarde um emprego. A vida dos magos ali deixou de existir, passaram a ter uma nova vida. Um ano depois de Verkan e Fishyr abandonarem aquele lugar, uma jovem solteira chamada Guinah, casou-se com Ipad e tiveram uma filha à qual chamaram Cazeila. Os anos passaram, aos poucos, as pessoas foram abandonando a gruta e alojaram-se em casas. Todos os que outrora tinham sido verdes, perderam todos os seus poderes e passaram, por isso, a ter um tom de pele normal mais uma vez. A parir desse momento eram todas pessoas normais. As pessoas foram-se esquecendo do passado e começaram uma nova vida.
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Mensagem por Rafa22 Seg Jul 27, 2009 9:15 pm

Vultos na Janela


Muitos anos passaram após a nascença do rapaz, nunca mais nas montanhas se ouvira falar em Verkan ou Fishyr, ou qualquer outro mago, homem ou mulher.
Numa das casas do pobre bairro no sopé das montanhas – a casa onde estava o portal (baloiço) – vivia uma família aparentemente normal. A família Rowle, cujo pai era Joseph, a mãe Margaret e o filho único, Louis.
Louis fazia treze anos, começava a entrar na adolescência, era o dia que ansiava.
Naquele dia a casa estava mais alegre, não se via sujidade nenhuma, como sempre Margaret, a mãe de Louis, mantinha a casa limpa.
Na carpete vermelha e castanha, que ficava no meio da sala, encontrava-se Louis, com ar abatido. Estava de pernas traçadas sentado a olhar para o velho tapete com os cotovelos apoiados na ponta dos joelhos.
A sua mãe, que estava a pôr a mesa, viu-o ali naquele estado e parou a sua ocupação de imediato. Dirigiu-se ao filho e olhou para ele.
– Louis, o que se passa? Porque estás assim? – perguntou com ar compreensivo.
– Não tenho nada mãe…Apenas penso que vou viver os próximos anos sem conhecer a amizade.
– Louis, eu sei que tu nunca tiveste amigos, mas isso é porque eles não te merecem. Tu sabes que… – encorajou-o a mãe, sem parecer convencida de que estava a dizer a verdade.
– Não mãe, eu não tenho amigos porque toda a gente diz que eu sou doido. Até vocês o dizem. Ainda ontem, eu disse que tinha visto o baloiço do jardim rodar a mil à hora e mandaram-me para o quarto a dizerem que eu estava a mentir. – gritou Louis.
Louis era um rapaz magro e de cabelo castanho amêndoa. Não usava óculos, nem qualquer outro tipo de acessório, nem mesmo relógio. A sua pele era morena, e no rosto, tinha uns brilhantes olhos castanhos.
– Louis, porque não dizes a verdade? – perguntou a sua mãe com a voz baixa e tremida. As lágrimas começaram a chegar-lhe aos cantos dos olhos.
– Eu não sou doido, tudo o que disse é verdade… Eu não sou doido. – gritou Louis zangado, como se fosse cuspir fogo pela boca. Levantou-se de um pulo e foi a andar a largas passadas dirigindo-se à porta do hall de entrada.
Abriu-a e empurrou-a com força, deixando a sua mãe a chorar sozinha na sala.
Contornou uma esquina que ia dar ao baloiço do seu jardim, mas mal levantou o rosto, viu algo que o fez recuar e esconder-se por trás da esquina, à espreita.
O baloiço vermelho e azul que estava no meio do jardim, rolou à velocidade da luz e depois parou de relance e de lá saiu, do banco do lado esquerdo, um rapaz aparentemente da sua idade e do banco ao lado do banco do rapaz saiu um homem, na casa dos 40 anos. Seguiram juntos lado a lado e dirigiram-se a uma janela a li nas traseiras da casa, sem ver Louis, passando pela outra esquina.
«Quem seriam aqueles tipos? Criminosos? Como terão vindo do baloiço assim?» Muitas coisas surgiram na mente de Louis. Pensou em encará-los, perguntar-lhes quem eram e o que pretendiam, mas pelo seguro, achou melhor entrar e avisar a sua mãe do sucedido.
Correu para a porta da frente, a mesma por onde tinha saído e abriu-a.
Dirigiu-se à sala de estar, mas a sua mãe já não se encontrava lá. Pensou na cozinha, pois era o sítio onde ela passava mais tempo.
Aí foi a seguir.
Entrou a correr, mas depressa parou. A sua mãe estava apoiada sobre o lava-louça, a limpar as lágrimas e a arrumar utensílios de cozinha ao que pareciam ser talheres.
Margaret olhou para o filho, ainda a suspirar.
– Temos de ter uma conversa... sobre… Desculpa filho, filho, isto é tão difícil para mim como para ti. Perdoa-me mas só vou acreditar no que dizes, quando também o vir. – disse a soluçar.
– Mãe, acabei de ver algo que não irias acreditar… precisas de ligar à polícia, vi duas pessoas e penso que…
Mas Margaret interrompeu-o virando-se de costas, a olhar para a janela da cozinha.
– Acabei de te dizer, que não acredito nessas parvoíces…
– Se não acreditas no teu filho, no próprio dia do seu aniversário, não faço nada aqui, nesta casa. Porque é que não acreditam em mim, por que razão haveria eu de mentir acerca disto? – Louis estava frustrado, e sem forças para gritar mais, fosse o que fosse.
Ambos gritavam. Louis começou a dirigir-se à sala. A sua mãe seguia-o com lamúrias.
– Filho, não podes sair de casa. Eu vou deixar-te aqui a reflectir.
– Eu tenho a certeza do que vi, porque não confias em mim, nem tu nem o pai.
– Eu vou descansar…Por favor pensa bem e não faças nada de cabeça quente filho, nós só queremos o teu bem.
Ela saiu devagar, muito abatida como se levasse uma tonelada em cima dos ombros. Pela sua cara parecia ir-se abrir em lágrimas.
Louis ficou sozinho, frustrado. Despiu o seu casaco azul e preto e atirou-o sem motivação para cima do sofá mais próximo. Irritado deu um pontapé no sofá, olhou para a rua e sentou-se calmamente.
Viu dois vultos de duas caras, uma mais alta e larga que a outra, tinham ambos uma cabeleira de um castanho-escuro, a do mais baixo quase dava a sensação de ser preta.
Louis ficou assustado ao vê-los a olhar para o interior da sua sala como se o espiassem discretamente. Mal repararam que Louis os observara e baixaram-se rapidamente.
– São eles…aqueles dois. – sussurrou Louis, com o pensamento virado para o que vira no jardim.
Pensou em ir chamar a sua mãe, mas mudou de ideias ao lembrar-se da discussão que acabara de acontecer.
Virou-se deixando o olhar fixo na lareira ao canto da sala e concentrando-se num plano para evitá-los ou expulsá-los.
De repente, Louis parecia ter cegado, o seu olhar continuava tão fixo nas chamas que estavam agora tão ardentes que queimavam só de olhar. O fogo não estava normal, agora as chamas formavam círculos ardentes e símbolos parecendo querer atingir um objectivo final. Os olhos de Louis abriram-se por completo e olhou as chamas que agora eram letras, com um olhar perfurante.
“ O que se passa? Como é possível?” – Perguntou-se no seu pensamento. Cada vez melhor, se notavam as palavras formadas pelas chamas brilhantes. Louis conseguia decifrar agora o código. Nas chamas estendiam-se, como que a flutuar, as seguintes palavras:

«Não estás a alucinar… O que vês é real.»

Louis não entendia porquê, mas a palavra real sobressaía às outras, era mais vermelha e claramente forte do que as outras. Passados uns segundos tudo se desvanecera, como se nunca ali estivessem estado, aquelas frases. Louis ficou petrificado a olhar, ora para a lareira ora para a janela sem saber o que fazer.
Pensou em ir à rua procurar respostas, saber que eram aqueles vultos, também pensou em ir para o seu quarto refugiar-se escondido e até em ligar à polícia, excluíra a opção de contar à mãe ou ao pai, que ainda não havia chegado do emprego.
Louis voltou então à cozinha para comer algo, tinha-se esquecido completamente do seu aniversário, pois estava a ser o mais triste aniversário que podia ter.
Tirou do frigorífico uma bebida e algo mais que fosse comestível e dirigiu-se à bancada onde ficava o lava-louça. Olhou de relance pela janela à sua frente e qual foi o seu espanto que lhe prolongou o nervosismo, quando viu as duas pessoas que vira à janela, de costas a correrem encapuzados para o baloiço nas traseiras, onde se sentaram e desapareceram deixando Louis a olhar para o baloiço a rodar a uma velocidade incrível.
Como de costume aquele dia de Outono tornava-se todos os anos, num Verão imenso, até parecia incrível ter a lareira acesa com o calor daquele dia. Com tudo o que tinha acontecido entre Louis e a sua mãe, o sol acabara por esmorecer um pouco. Anoiteceu mais cedo e o sol que passava entre os ramos das árvores já não era tão brilhante.

Era noite, os três (Louis, Margaret e o pai de Louis, Joseph) estavam a terminar o jantar.
Margaret parecia mais calma e já não chorava, ninguém falava, estava um silêncio quase completo, apenas se podia ouvir o som dos talheres a baterem nos pratos enquanto comiam.
Rapidamente acabar de comer e Margaret levantou a mesa, com ar apressado.
Tirou do frigorífico, como se escondesse, um bolo redondo e pequeno, que dizia: «Parabéns Louis» em letras brancas ao que pareciam ter sido escritas com “chantilly”. Arrastou o bolo para o centro da toalha amarela que estava na mesa da cozinha. Puxou os fósforos que estavam numa prateleira por cima do fogão e acendeu as duas velas, uma com o número 1 e outra com o número 3, que estavam espetadas no centro do pequeno bolo.
Joseph começou a cantar os parabéns, fazendo a Margaret um olhar de aprovação. Levantou-se e apagou as luzes, deixando apenas as velas a reflectirem o seu magro rosto nada feliz, com a barba por fazer e o seu cabelo castanho esbranquiçado pela idade.
No fim, Louis com o rosto petrificado e um ar ligeiramente triste, dirigiu a boca às velas e suspirou fracamente deixando a casa às escuras. Fora o dia de aniversário mais triste que já tivera. Pensou nas duas únicas prendas que recebera dos seus pais. Eram eles, um livro intitulado «Vida do Navegador Bubleit» e uma pulseira de madeira com uma pedra verde no centro, que brilhava, podia não ter valor mas era uma pulseira bonita de facto.
Já no quarto, Louis deitou-se a reflectir no dia que tinha passado e a pensar no que poderia correr melhor no dia seguinte.
Adormeceu na esperança de ter um dia mais feliz amanhã.

No dia seguinte, a manhã estava fresca e claramente iluminada por um lindo sol. Da janela do quarto de Louis podia ver-se uma bonita colina verdejante coberta de granizo invernal. Acordou com dificuldade para se habituar à luz forte do Sol, mas por fim os seus olhos habituaram-se. Olhou para a colina por uns instantes, mas o seu estômago roncou e obrigou-o e ir tomar o pequeno-almoço. Primeiro foi à casa de banho esfregar a cara com água fresca. Viu-se ao espelho surpreendido.
– A minha cara, o que é isto! – ficou nervoso e amedrontado ao ver a sua cara envolta numa cor verde marinho, quase transparente. Depressa reparou que toda a pele estava assim.
Chamou o seu pai, esta era a única forma de provar que não era maluco. Não pensou em chamar a mãe pois ainda estavam zangados. Correu para fora do seu quarto em direcção ao quarto dos seus pais. Tremia com medo. Afinal, podia ter uma doença muito perigosa que o pudesse levar à morte, todas as hipóteses eram prováveis. Louis chamou mais uma vez, mas não tão alto. Ninguém saiu ao corredor, nem se ouviu um único som. Virou à esquerda no corredor, onde se encontrava a porta do quarto dos seus pais, mas não quis bater à porta, esperou uns segundos, como se estivesse a testar a melhor forma de o fazer. Ouviu os seus pais a conversarem num sussurro inaudível. Encostou o ouvido à porta para tentar ouvir o que diziam. Não costumava fazer este tipo de coisas mas algo o incitou a fazer daquela vez. Daquelas palavras, Louis apenas conseguira perceber o final:
– … Eu acho que agora devíamos estar atentos e mais em cima dele, sabes bem que o… – Louis não percebera muito bem esta parte. – … ou a Kindie vão aparecer a qualquer momento. Aí, tudo aquilo que queríamos que ele não soubesse, vai ser-lhe contado. – disse Joseph.
– E se fossemos nós a contar-lhe, tudo seria mais fácil? Devíamos ser nós a contar-lhes a nossa antiga vida, a nossa perda dos poderes e o porquê de agora estarmos aqui a viver. Para além disso eu acho que eles já cá andaram a espiar. O Louis disse-me que viu umas pessoas saírem do baloiço e nós sabemos que ele não imagina coisas, o que ele diz é sempre verdade, ele tem é de pensar que anda a ver coisas. – finalizou Margaret. Louis sentiu um calor dentro de si e uma boa sensação ao saber que os seus pais afinal acreditavam em si. Apenas não estava a perceber porque é que queriam fazer dele um maluco. O que estavam a dizer, confundiu Louis, mas conseguiu entender algumas das palavras. No entanto os seus pais escondiam-lhe algo muito importante e nem sequer sabia o quê, parecia ser algo a ver com os seus passados.
Louis ouvira que chegasse, voltou para o seu quarto em passadas largas. Os seus pais já se iam levantar.
Vestiu um casaco de Inverno e tentou tapar a cara com o seu capuz.
Esperou que os seus pais descessem e depois desceu atrás deles. Tomaram o pequeno-almoço juntos em família.
– Louis, eu e o teu pai vamos ter de ir às compras, vens connosco? – anunciou Margaret.
– Preferia ficar. – respondeu. Louis queria descobrir o que lhe escondiam os pais e segundo o que eles disseram alguém iria aparecer e contar-lhe o que os seus pais lhe escondiam há muitos anos. Margaret suspirou e depois disse:
– Está bem, podes ficar, mas não sais de casa e vais estudar porque amanhã já tens aulas. – Margaret parecia um pouco nervosa ao dizer aquelas palavras. – Dentro de quarenta e cinco minutos estamos cá. Vamos Joseph?
– Sim vamos. Adeus Louis e faz o que a tua mãe te disse. – praguejou Joseph.
– Pronto, adeus filho, até logo.
Assim que saíram, Louis pôs-se a pensar porque seria, que os seus pais tinham insistido tanto para que ele ficasse em casa e não saísse para a rua. O que estariam eles a esconder? Teria com certeza a ver com aquilo que tinham dito no quarto. Louis estava perdido, já nada fazia sentido na sua mente, queria compreender mas não conseguia. As coisas que ele via, as coisas que lhe aconteciam, eram todas reais, mas como? Como seriam reais, como aparecera aquela chama com palavras escritas na lareira? Que magia gerara tudo aquilo? O maior dos enigmas agora era a sua própria pele, teria tudo a ver ou seria a pele uma doença ou alergia. Louis nunca ouvira falar de uma doença que deixasse a pele verde, e se as pessoas o vissem assim? O que iriam achar, iriam ficar loucas. A mente de Louis estava num turbilhão. Os seus pais não tinham reparado na sua pele verde ao pequeno-almoço, ou não quiseram falar sobre isso. A sua mãe tinha dito que as pessoas que tinham vindo do baloiço eram possivelmente os que lhe iriam contar a verdade, mas Louis sentia-se assustado só de pensar nelas.
Voltou-se para a janela da cozinha com esperança de que elas viessem hoje, com esperança de que o baloiço do jardim rolasse mais uma vez a mil à hora, mas nada aconteceu. Esperou mais uns minutos. O seu coração batia fervorosamente. Possivelmente era por isso que os seus pais não o queriam na rua, para que não falasse com aquelas pessoas. Louis lamentava não os ter ali e agora, mas não apareceriam pela sua vontade. Sentiu algo por cima do seu ombro, algo que lhe deu um arrepio, era uma mão aquecida com o calor corporal. Assustou-se e não se queria virar. Pensou na possibilidade de serem os seus pais, mas apenas descobriria se virasse o rosto. Foi o que fez. Apercebeu-se rapidamente de que não eram os seus pais e com um impulso involuntário, saltou para trás afastando a mão de si. Gritou sobressaltado:
– Quem são vocês?! O querem?! Como conseguiram entrar?!
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